domingo, 29 de janeiro de 2012


O Princípio das Trocas de Informações Intra-Sistema Humano (Intrassistêmicas ou Intracorpóreas), da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, de Rosalda Paim e, a publicação "O que é Nutrição Funcional? - Por Gabriel de Carvalho" 


O referido Princípio é assim enunciado:

Princípio das Trocas de Informações Intracorpóreas ou Intrassistêmicas 

         No interior do organismo humano, como em outros sistemas vivos, todas as ações fisiológicas (físico-químicas) são reações (respostas) a um conjunto de estímulos informacionais, cujos mecanismos de regulação e de controle dependem, também, de uma complexa rede de informações entre os diversos subsistemas do organismo, tudo em consonância com a programação constante do código genético e, mediadas por matéria e energia, ou seja, por fenômenos de natureza física, química ou físico-química.

(Do Livro: Paim, Rosalda C. N - Teoria Sistêmico Ecológica - Uma Visão Holística da Enfermagem - Lambari - 2a. Edição - Informática Editoração - Ano 2000 - 234 p.) 

 Todos os direitos reservados aos autores
                                  copyright Ó by Rosalda C.N. Paim 

A abordagem de Gabriel de Carvalho, ao comparar o organismo humano a um computador e o Nutricionista a um programador, além de considerar alimentação como como um aspecto dos aportes de informações ao nosso corpo, não só favorece a compreensão do Princípio acima, formulado pela teorista de enfermagem Rosalda Paim, como é capaz de demonstrar a sua coerência e aplicabilidade. (Comentário de Edson Paim) 

Destacamos o trecho da publicação do Nutricionista Gabriel de Carvalho, acima comentado:   

"Da mesma forma que os dados e comandos que colocamos em um computador determinarão o funcionamento desta máquina, as informações que colocamos em nosso organismo, determinarão o seu funcionamento. Os nutrientes (sejam bons ou ruins, equilibrados ou desequilibrados), toxinas, hormônios e neurotransmissores são as “informações” que colocamos em nosso corpo diariamente. Caso você não goste de como sua máquina está funcionando, mude as informações que oferece a ela! Melhor ainda, “contrate” um programador, o nutricionista funcional, para lhe ajudar nesta tarefa!"

Após o enunciado do Princípio das Trocas de Informações  Intra-Sistema Humano (Intrassistêmicas ou Intracorpóreas), Rosalda Paim acrescenta: 


Introdução: Este princípio se refere ao conjunto de informações resultantes de estímulos externos, oriundos do ambiente, aportados ao organismo através dos exteroceptores (receptores externos) e, por estímulos internos, originados no próprio interior do organismo, captados por interoceptores, (receptores internos).
Estas informações ou estímulos trafegam no organismo (mediadas por matéria e energia), aportando aos centros específicos de recepção, de decodificação de informações e de tomada de decisões (comando e controle), os quais emitem as respostas correspondentes, em consonância com a programação genética e adquirida.
Dessa rede de informações depende o conjunto das demais trocas que se processam no seu interior, isto é, entre suas células, seus órgãos,seus aparelhos e seus sistemas e, da totalidade do organismo, como um todo, com o meio externo (ambiente). Todos estes processos são necessários à concretização, regulação e controle da totalidade das funções metabólicas do sistema humano e, de suas ações sobre oambiente externo, objetivando a manutenção do estado de equilíbrioglobal do organismo, dos seus órgãos, aparelhos e sistemas.
Este estado de equilíbrio depende, por sua vez, do funcionamento das células individuais (já que a célula é a unidade funcional básica do organismo) e que o estado de saúde e a continuação da vida dependem da manutenção de um adequado meio ambiente líquido, o qual banha o exterior de todas as células (meio interno ou “millieu interieur”, como o designou o grande fisiologista Claude Bernard17), ou seja, depende da constância da composição dos líquidos extracelulares.
O estado de equilíbrio do organismo é expresso pela constância da composição química e das características físicas do meio interno ou liquido extracelular, no qual está mergulhada a totalidade das células do organismo, constituindo o ambiente imediato de cada célula e, entre ambos (célula e seu ambiente), são efetuadas constantes trocas.
Portanto, todas as células, órgãos, aparelhos e sistemas, cada qual de modo próprio, desempenham papéis individuais na manutenção da constância desse meio interno líquido, processo designadohomeostasia (termo criado pelo, também notável, fisiologista Walter Cannon18).
Enfatiza-se que, tudo no organismo é inter-relacionado, sistêmico. Por isto, para a consecução do seu equilíbrio global (homeostasia), para a integração e funcionamento harmônico e sinérgico de toda a sua estrutura (anatomia e histologia), de sua dinâmica (fisiologia), existem complexos mecanismos de comando, de regulação e de controle (cibernéticos) que, por sua vez, necessitam de uma, também não menos complexa, rede de informações que capta sinais do ambiente externo e de cada um dos elementos internos e, os transporta ou transmite (trocas de informações intracorpóreas) para outros pontos no interior do organismo (centros de decisão), onde serão interpretadas (decodificadas), ensejando as respostas correspondentes.

Transcrevemos, a seguir, o inteiro teor da publicação referida, o qual mantém coerência com a idéias de Rosalda Paim, constantes de outros Princípios da Teoria Sistêmica Ecológica de Enfermagem:

O que é Nutrição Funcional? - Por Gabriel de Carvalho



A Nutrição Funcional é uma maneira dinâmica de abordar, prevenir e tratar desordens crônicas complexas através da detecção e correção dos desequilíbrios que geram as doenças. Estes desequilíbrios ocorrem devido à inadequação da qualidade da nossa alimentação, do ar que respiramos, da água que bebemos, dos exercícios (a mais ou a menos) e alterações emocionais que passamos.

Estas “inadequações” são consideradas de acordo com a individualidade genética que ocorre em cada um de nós. Vamos a alguns exemplos: enquanto um indivíduo é alérgico a camarão o outro não é. Enquanto para um o café pode gerar dor de cabeça e insônia, para outro não. Enquanto um necessita de mais zinco (ex: 25mg) para produzir ácido suficiente em seu estômago, o outro precisa de menos (ex.: 10mg). Enquanto um precisa de mais ômega 3 para manter os triglicerídeos e o HDL em níveis adequados, o outro precisa de menos.

Da mesma forma que os dados e comandos que colocamos em um computador determinarão o funcionamento desta máquina, as informações que colocamos em nosso organismo, determinarão o seu funcionamento. Os nutrientes (sejam bons ou ruins, equilibrados ou desequilibrados), toxinas, hormônios e neurotransmissores são as “informações” que colocamos em nosso corpo diariamente. Caso você não goste de como sua máquina está funcionando, mude as informações que oferece a ela! Melhor ainda, “contrate” um programador, o nutricionista funcional, para lhe ajudar nesta tarefa!

A Nutrição Funcional considera a interação entre todos os sistemas do corpo, incluindo as relações que existem entre o funcionamento físico e aspectos emocionais.

A Nutrição Clinica Funcional possui cinco princípios básicos:

1) Individualidade bioquímica: Desde pequena(o), você não ouviu sempre dizer que em todo o planeta não há ninguém igual a você? Pois é, todo mundo sabe disso. No entanto, na hora de nos olharmos “por dentro”, em nossa saúde, os profissionais nos tratam como se fossemos todos quase iguais!

A interação de nossa genética única, de nossa alimentação e de elementos ambientais (toxinas, poluentes, estresse mental, atividade física) irão “modular” nosso genes determinando quais “falarão mais alto”, ou quais ficarão “calados”. O que todos desejamos, é "calar" os genes associados a doenças, e "deixar falar” os genes associados à saúde!!!

Este princípio irá nortear à terapia nutricional, que deverá sempre levar em consideração às necessidades individuais, bem como sinais e sintomas apresentados por você. Não podemos esquecer que grande parte da expressão de nossos genes depende do meio ambiente. Assim, podemos apresentar necessidades e carências de acordo com o ambiente em que estamos.

2) Tratamento centrado no paciente: O tratamento é direcionado ao paciente e não a doença, ao oposto da medicina tradicional. Torna-se mais importante saber que paciente tem a doença do que saber que doença o paciente tem. O indivíduo é abordado como um todo, um conjunto de sistemas que se inter-relacionam e que sofrem influências de fatores ambientais, emocionais, alimentares, historia individual de patologias e uso de medicamentos, hábitos de vida e atividade física, por exemplo.

3) Equilíbrio nutricional e biodisponibilidade de nutrientes: Se torna importante a oferta de nutrientes em quantidades adequadas e em equilíbrio com todos os outros, para que haja otimização da sua absorção e aproveitamento pelas células.

4) Inter - relações em teia de fatores fisiológicos: todas as funções de nosso corpo estão interligadas. A teia da Nutrição Funcional considera a inter-relação mútua de todos os processos bioquímicos internos, de forma que um influencia no outro, gerando desordens que abrangem os diversos sistemas. Hoje sabemos, por exemplo, que disfunções imunológicas podem promover doenças cardiovasculares, que desequilíbrios nutricionais provocam desequilíbrios hormonais e que exposições ambientais podem precipitar síndromes neurológicas como a doença de Parkinson. A teia conduz a organização do raciocínio na busca da compreensão dos desequilíbrios que estão nas bases funcionais do desenvolvimento das condições clinicas (i.e. doenças), corrigindo a causa, ao invés de apenas os sintomas genéricos.

5) Saúde como vitalidade positiva: a saúde não é meramente a ausência de doenças, e sim o resultado de diversas relações entre os sistemas orgânicos, por isso devemos analisar os sinais e sintomas físicos, mentais e emocionais que podem estar nas bases dos problemas apresentados.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Livro Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, de Rosalda Paim



INTRODUÇÃO           


A existência das ultra-especializações e a percepção da fragmentação da assistência em saúde, aliada à persistente visão fragmentária, não sistêmica, do ser humano, impuseram-nos a consciência de que o modelo vigente, tanto na enfermagem quanto na medicina, não mais satisfazia as necessidades do nosso tempo, pois a distorção dos respectivos modelos assistenciais penaliza os usuários do setor saúde, motivo suficiente para nos sugerir a investigação no sentido de encontrar novos rumos para a enfermagem e para o enfermeiro.

                 Além disto, desde o inicio de nossas atividades, insurgimos com ausência do emprego do método científico nos procedimentos de enfermagem, o que constatamos ser decorrência de insuficiente embasamento metodológico, isto porque as teorias de enfermagem, então existentes, sobretudo pelos seus aspectos mecanicistas, fragmentários, reducionistas, eram insatisfatórias para atender nossos ideais de ver implantada uma metodologia científica na enfermagem.
                 A partir dessas premissas e, baseados, principalmente, na Teoria Geral dos Sistemas, na Cibernética, na Teoria da Informação, na Ecologia, na Psicologia Gestatista, na Fisiologia (Bioquímica e Biofísica), além da utilização de conceitos, idéias, fundamentos e princípios oriundos de outros ramos do saber, além de conhecimentos específicos da área de Enfermagem, portanto em uma perspectiva multirreferencial e holística, elaboramos a Teoria Sistêmica de Enfermagem (Paim, 1974).
                 Além desses vários ramos do saber, que compulsamos para alicerçar nossa teoria, incluímos: Epidemiologia, Biologia, Patologia, Higiene, Nutrição, Educação, Saúde Comunitária, Filosofia, Pedagogia, Sociologia, Antropologia, Estruturalismo, Funcionalismo, Genética, Teoria da Evolução, Ética, Ciência da Administração e Dialética, particularmente, aspectos da Dialética da Natureza (Engels).
                 Por entendermos que o estudo do ser humano não deve ser dissociado do meio em que se insere, cujas relações os afeta mutuamente, rebatizamo-la como "Teoria Sistêmica Ecológica de Enfermagem", estratégia capaz de enfatizar a importância dos intercâmbios que se processam entre o organismo humano e o seu ambiente, as quais podem ser traduzidos e sintetizados como um sistema de “trocas de matéria, energia e informações”, aspectos que jaziam expressos em nossa teoria, através dos seus Princípios das Ações Simultâneas, de Adequação do Ambiente e de Facilitação das Trocas.

, de vez que um dos fundamentos de teoria está representado pela fusão dos conhecimentos do Sistema Humano, de sua estrutura (Anatomia e Histologia), do seu funcionamento (Fisiologia), com ênfase em todo o processo vida e na homeostasia do organismo, aliando-se os postulados da Fisiologia e da Ecologia, caracterizando, assim, como uma Fisioecologia.
                 Como esta teoria fora, desde o início, fundamentada, também, na Cibernética, da qual tomamos por empréstimo o seu dispositivo de “feedback” e, ao julgarmos que deveríamos explicitar esta sua característica tão marcante, resolvemos designa-la, finalmente, como Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem. 
                 Todo sistema se relaciona com o seu entorno e, a totalidade destes relacionamentos pode ser sintetizada como um contínuo processo de trocas de matéria, energia e informações entre cada sistema e o respectivo ambiente, afetando-se reciprocamente.
                 È notório que, no sistema de saúde, o enfermeiro é o profissional que tem a maior participação na administração (coordenação, integração, controle e reajustes) do processo de trocas entre o ser humano e o ambiente (Princípio da Facilitação das Trocas).
                 Em decorrência desse Princípio, torna-se necessária e obrigatória a atuação do enfermeiro, sempre, não só sobre o homem como, também, sobre o ambiente (Princípio das Ações Simultâneas), tornando e/ou mantendo o ambiente higiênico, eugenético e agradável (Princípio de Adequação do Ambiente).
                 Desta visão resulta a necessidade de centrar o estudo e as ações da enfermagem, não só no organismo humano, mas também no ambiente, já que os desequilíbrios ambientais, sobretudo dos ambientes próximos como o leito, a enfermaria, o lar, os locais de trabalho, além de outros, afetam a obtenção e/ou manutenção do bem estar físico, mental e social do cliente.
 .               Na interface entre o corpo e o ambiente, se inclui a vestimenta, a qual pode ser considerada, praticamente, extensão do próprio corpo, cujas condições, adequadas ou não, influencia diretamente o processo de saúde ambiental, com reflexos óbvios na saúde corporal.
                 As condições enumeradas nos induziram à construção dos Princípios das Ações Simultâneas e de Adequação do Ambiente, da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem, já referidos.
                 Diante desta percepção e, para o exercício de uma enfermagem sistêmica e ecológica, torna-se necessário amplo e perfeito conhecimento do funcionamento do organismo humano (Fisiologia) e, simultaneamente, dos fundamentos da Ecologia.
                 Por esta razão, adotamos o termo “Fisioecologia” (junção da Fisiologia e da Ecologia), como o cerne de nossa teoria, centrando-se o trabalho do enfermeiro, na homeostasia do sistema de trocas de matéria, energia e informações entre o ser humano e o seu ambiente, processo em que ambos se afetam, mutuamente.
                 Tal postura desloca a ênfase atual no estudo do corpo doente e da doença para o exame do estado hígido do organismo humano e dos desequilíbrios do seu espaço circundante (ambiente).
                 As condições de ambos (sistema humano e ambiental) influem na adequação ou inadequação do processo de trocas de matéria, energia e informações entre o ser humano e o ambiente.
                 As trocas, entre ambos, ocorrem ao longo do "continum" do processo vida, ou seja, no decurso de toda a trajetória existencial, num eixo espiralado espaço-temporal, resultando em condições de saúde ou, tornando-se geradoras de processos mórbidos.                      
                      O ambiente é percebido em sua dimensão ampliada, sistêmica: é tudo que nos cerca, o que pode ser sintetizado como constituído pela totalidade dos sistemas, de natureza física, biológica, tecnológica e social que constituem o Universo.
                 Abstraído o sistema considerado, neste caso o homem (o seu corpo), tudo é ambiente (o restante do universo), incluindo os outros seres humanos, os demais seres vivos, o mundo físico, os  instrumentos tecnológicos e as relações sociais.
                 Portanto, as relações do sistema humano com o sistema ambiental (incluindo-se os outros seres humanos, situados no ambiente do homem em estudo), são, na realidade, relações de intercambio de matéria, energia e informações entre ambos, incluídas as relações de trabalho.
                 As condições de vida estão, assim, na dependência do equilíbrio das trocas e, afetadas pelas condições do ambiente, sendo em última análise, conseqüência da conjugação do potencial genético e da pressão ambiental sobre o código genético, esta decorrente do nível do equilíbrio ecológico (Princípio da Concorrência dos Efeitos Genéticos Ambientais).
                 Com fundamento na Teoria Sistêmico-ecológica-cibernética de Enfermagem, o enfermeiro buscará sempre promover, preservar ou restaurar o equilíbrio do organismo (homeostasia), para o que necessita atuar, a um só tempo, sobre o meio interno e sobre o meio externo (ambiente).
                 Essencialmente, todos os sistemas auto-organizadores como os organismos vivos e os ecossistemas naturais são possuidores de mecanismos de auto-regulação ou controle automático, constituindo sistemas cibernéticos ou homeostáticos, atuando através do mecanismo de "feedback" negativo, podendo (os ecossistemas naturais), ser considerados como sistemas “vivos”, como é o caso do próprio Planeta Terra que, nesta ótica, é designado “GAIA” (terra viva).
                 O corpo humano dispõe de sistemas de controle automáticos (auto-reguladores), os quais são constituídos de milhares de dispositivos, que funcionam de maneira inter-relacionada, articulada e automática, isto é, sistêmica e ciberneticamente, destinados a manter o seu equilíbrio, apesar da variabilidade do ambiente, neutralizando as distorções dos aportes de matéria, energia e informações, em busca incessante do equilíbrio, da homeostasia (constância de composição), de modo que os desvios dessas condições sejam apenas transitórios e não se tornem persistentes ou patológicos, mas assegurando a manutenção do estado fisiológico, de  higidez  ou de saúde.
                 Para consubstanciar nossos trabalhos, levamos em consideração todo o processo evolutivo (historicidade) da política de saúde do país, a partir da proposta de Ações Integradas de Saúde e a estratégia de Integração docente-assistencial, até  alcançar a quase utopia do Sistema Único de Saúde, preconizado pela própria Constituição da República.
                 Entretanto, as práticas prevalentes entre nós, acham-se totalmente dissociadas de um discurso bem articulado, tanto que até mesmo no bojo de Planos de Saúde do País e dos Estados consta a avaliação de que o modelo de saúde atual é verdadeiramente caótico, iníquo e perverso.
                 Estudos que realizamos, das condições em que deveriam ser efetuadas as ações de saúde e, no caráter preditivo da teoria proposta, constituíram base suficiente para afirmarmos, em nossas publicações anteriores que, se não forem alavancadas mudanças drásticas no modelo assistencial em curso, o Sistema Único de Saúde terá, certamente, o mesmo destino de todas as propostas anteriores.
                 Estas propostas, alentadoras e louvadas "em prosa e verso", ao seu tempo, que tiveram resultados nada significativos, conduzindo-nos à situação atual, muito deteriorada em relação àquelas, então reinantes.
                 Consoante a Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética e o Processo Sistêmico Cibernético de Assistência de Enfermagem, o enfermeiro opera, fundamentado no próprio modelo de funcionamento do organismo humano e dos ecossistemas naturais, uma vez que tanto a Teoria como o Processo foram inspirados nos mecanismos de auto-organizacão e de auto-regulação dos organismos vivos (homeostasia) e dos sistemas ambientais (equilíbrio ecológico).
                 Para que este modelo seja aplicado, deve o enfermeiro ser atento e vigilante, a fim de atuar prontamente, assegurando, a todo instante, o maior nível de equilíbrio permissível pelo potencial genético de cada cliente e, pela história, circunstâncias presentes, além das potencialidades, das ações ambientais sobre o mesmo.
                 Estas condições são traduzidas pelo Princípio Genético-Ambiental, pelo Princípio da Pressão Ambiental sobre o Código Genético e, Princípio Genético-Ambiental (Histórico-Instantâneo-Futuro), centrando-se sempre, na manutenção do equilíbrio do organismo, na prevenção dos seus desequilíbrios e, nos esforços para a  reversão destes.
                 É fundamental que, nesta fase de transição rumo a uma enfermagem verdadeiramente científica, a execução dos cuidados de enfermagem, seja efetivada mediante o emprego do método científico, de teorias, do processo de enfermagem, de princípios científicos, da técnica, das destrezas e habilidades, incluindo a utilização de todos os demais instrumentos.
                 Na enfermagem sistêmica, o cliente deve ser visualizado em seus aspectos de abrangência, totalidade, integração e síntese e não, apenas em suas características analíticas, fragmentárias ou reducionistas.
                 Na enfermagem ecológica, as ações e os cuidados do enfermeiro são direcionados, concomitantemente, para o espaço corporal (intracorpóreo ou intra-pele) do ser humano e, para o seu entorno (espaço extracorpóreo) ou ambiente em que está inserido, incluindo seus limites, que designamos “barreiras”, cujo objetivo é efetuar a identificação, em ambos, dos estados de homeostasia ou de seus desvios desta, os quais expressam a resultante das ações conflitantes (dialéticas) entre os mecanismos entrópicos e negentrópicos”, atuantes sobre o organismo humano.
                 Na enfermagem cibernética, enfatiza-se a participação dos mecanismos de “feedback”, existentes no organismo humano, capazes de reajustar, continuamente, as condições internas do organismo no sentido de manter a estrutura do organismo e a sua constância de composição (homeostasia), além de buscar incessantemente, as condições de equilíbrio com o meio circundante.
                Na enfermagem sistêmica-ecológica-cibernética avulta-se o componente informacional (Teoria da Informação), pois a transmissão das informações é ubíqua em todas as etapas do processo vida, iniciando-se desde a origem da vida (surgimento do DNA), aspecto essencial no decurso de todo o processo evolutivo biológico, prosseguindo na transmissão de informações genéticas  (propagação de características genéticas inter-gerações), bem como nas transmissões de informações intrassistêmicas (informações que se processam no interior do organismo (no âmbito celular, inter-células, inter-órgãos, inter-aparelhos e intersistemas) para alcançar todas as trocas de informações entre o organismo e o seu entorno.        
                 Para que o organismo humano execute o seu papel, programado pelo código genético, é necessário, em primeiro lugar, não atrapalhá-lo e, depois, ajudá-lo, na sua concretização.
                 Nesta ótica, se prioriza a saúde em relação à doença,  ao se entender a saúde como um estado de equilíbrio contínuo e permanente do processo de trocas de matéria, energia e informações entre o sistema humano e seu ambiente.
                 Por sua vez, a doença é considerada como desvio do equilíbrio desse processo (uma intercorrência ao longo do processo Vida), em relação que no âmbito da enfermagem, compete ao enfermeiro contribuir para promover, preservar ou restaurar a homeostasia do organismo humano e o equilíbrio de seu ambiente próximo, para que as relações de trocas entre um e outro se efetuem adequadamente.
                 A contribuição do Enfermeiro, nesse sentido, se realiza através dos Cuidados de Enfermagem, consistindo no planejamento, organização, coordenação, integração, controle, avaliação e reajuste ou (“feedback”) das referidas trocas de “matéria, energia e informaçõesentre o homem e o seu ambiente, o que constitui o Processo de Enfermagem, sintetizado pelo Princípio de Administração das Trocas.
                 O Princípio de Administração das Trocas, da Teoria Sistêmica, Ecológica e Cibernética de Enfermagem se refere à detecção das necessidades, ao planejamento, à execução, á avaliação, à regulação e aos reajustes (“feedback”), em síntese, busca a otimização dos intercâmbios que se realizam entre o cliente e o seu entorno, enfim, trata de todas as etapas do Processo de Enfermagem. 
                 Este Processo tem como etapa importante a detecção das necessidades das trocas de “matéria, energia e informações” entre o cliente e o meio (Diagnóstico de Enfermagem) de que resultam as determinações ou ordens - as Prescrições de Enfermagem.
                 Com base nas Prescrições, se efetuam os intercâmbios (Terapêutica de Enfermagem), entre o cliente e o meio.
As Prescrições e a Terapêutica serão, constantemente, avaliadas e reajustadas, através das etapas de Avaliação (Controle de Qualidade) do produto final do sistema de enfermagem (a assistência respectiva), com base na qual se reajusta, através da etapa de Retroação, Retroalimentação ou “feedback”, tanto a assistência como o próprio sistema de enfermagem, como um todo. 
                 Além dos cuidados específicos sobre o corpo do cliente (sistema humano), se torna imprescindível que as ações de enfermagem se orientem, também, no sentido de ajustar o meio (sistema ambiental) próximo, em que se insere o cliente, às condições peculiares de que trata o (Princípio de Adequação de Ambiente).
                 Nos cuidados prestados, segundo a enfermagem sistêmica, ecológica e cibernética, tem importância definida: a consciência, a presença, o olhar, a fala, as mãos, os gestos, o toque e outros meios de expressão corporal, a utilização dos diversos sistemas de linguagem e de trocas de informações (processo comunicativo).                 
                 Todos estes aspectos têm repercussões relevantes nas ações do enfermeiro, o qual, através da administração (coordenação, integração e controle) do processo de trocas de matéria, energia e informações entre o homem e o ambiente, objetiva promover, preservar ou restaurar a homeostasia do organismo humano e o equilíbrio de seu ambiente próximo, para que as relações de trocas entre um e outro se efetuem adequadamente, ou seja, contribuam para a homeostasia do organismo, como um todo.
                 É através da visão, aqui expressa, que se desenvolvem os capítulos seguintes, deste livro.




(Do Livro: Paim, Rosalda C. N - Teoria Sistêmico Ecológica - Uma V
isão Holística da Enfermagem - Lambari - 2a. Edição - Informática Editoração - Ano 2000 - 234 p.) 

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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Princípio da Extrapolação do Ciclo Vital da Teoria Sistêmica Ecológica Cibernética de Enfermagem,  de Rosalda Paim e, a indenização de feto pelo Estado, enquanto vítima de tortura
Um dos atributos indispensáveis de uma teoria é o seu caráter de previsibilidade.

Uma teoria deve, não só explicar os eventos passados e atuais, mas também, prever os futuros.

É o que ocorre com a Teoria Sistemica Ecológica Cibernética de Enfermagem, da Professora Doutora Rosalda Paim (UFF), a qual consta de Tese de Livre Docência, apresentada, defendida e aprovada em 1974, pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), em 1974, em cujo bojo consta o Princípio de Extrapolação do Ciclo Vital, o qual prescreve a assistência de enfermagem ao feto e ao nascituro, cujo enunciado é o seguinte:


         Princípio da Extrapolação do Ciclo Vital  

A enfermagem assiste e cuida do ser humano desde a fase em que existe apenas potencial de vida (período preconcepcional), durante todo o curso do desenvolvimento fetal e do nascituro, no instante do nascimento, prossegue no decurso de toda a sua trajetória existencial no espaço/tempo, extrapolando, para abranger, inclusive, o pós-morte imediato. 


Corolários:

       
     A assistência de enfermagem é prestada:
     - aos futuros pais, na fase pré-concepcional, objetivando o advento de uma prole sadia.
     - à mãe e ao nascituro em qualquer fase do ciclo uterino.
     - à mãe e à criança, em caráter contínuo, no pré-parto.
     - à mãe e à criança, durante o ato do parto.
     - à criança (recém nata e, nas demais fases), ao adolescente, ao adulto e ao idoso.
     - ao paciente terminal, minimizando os traumas da pré-morte.
     - no instante da morte.
     - no pós-morte imediato.

     A assistência de enfermagem atinge o pós-morte imediato representada pelas primeiras ações sobre o cadáver e por trocas  de  informações com a família (comunidade).
     - O preparo e remoção do "corpo", da  enfermaria, constitui um  aspecto da tarefa de "Adequação do Ambiente", possibilitando que, através do olhar, o pessoal de saúde, os pacientes e os familiares possam tomar consciência de que o desequilíbrio do ambiente e das pessoas envolvidas, provocado pelo fenômeno morte, acha-se atenuado ao máximo nível permissível pelas circunstâncias.
     O "Princípio da Extrapolação do Ciclo Vital" possui interface com o "Princípio da Facilitação de Trocas" e com o "Princípio da Administração das Trocas", pois ainda após a morte, o corpo sem vida, enquanto não se desintegrar, continuará a trocar matéria e energia com o ambiente: perda de água, energia calorífica, cessão de matéria para desenvolvimento de microorganismos, eliminação de gases e outros eventos, até que todos os elementos constituintes do corpo humano sejam restituídos aos seus grandes reservatórios (o solo, à água e atmosfera), processando-se o eterno ciclo das diversas substâncias (Nitrogênio, Carbono, Oxigênio, Água, Minerais e outros).
     É para adequar o ambiente da enfermaria, o ambiente hospitalar, que o enfermeiro exerce ação sobre o "corpo", no pós-morte imediato, assim como o processo de sepultamento constitui, também, aspecto do processo de ação sobre o ambiente, a cargo de outras categorias profissionais. 

Com a anterioridade de mais de trinta anos, a Enfermeira Teorista Rosalda Paim, em sua abrangente Teoria Sistêmica Ecológica de Enfermagem, codificou a assistência e os cuidados  ao nascituro, preocupação corroborada pelo setor jurídico, ao preconizar a assistência jurídica ao feto, como consta de nossas postagens anteriores e da seguinte:


Estado indeniza segundo feto como vítima de tortura

11/02/2007 - 10h49
ITALO NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo, no Rio

Mais um feto foi reconhecido como vítima de tortura durante a ditadura militar, desta vez no Rio. A comissão de Reparação do Estado entendeu que Lucas Pamplona Amorim, 31, foi violentado, em 1975, enquanto ainda estava na barriga de sua mãe, Vitória Pamplona. Ela estava no sétimo mês de gravidez quando foi submetida a tortura psicológica.

É o segundo caso em que um feto é reconhecido como vítima de tortura. A Comissão de Ex-Presos Políticos de São Paulo indenizou João Grabois por ter sido torturado junto com sua mãe, Criméia Grabois, em 1972.

A família de Lucas usou, entre outros documentos, a decisão do órgão paulista para comprovar os efeitos da tortura no feto. Ele será indenizado em R$ 20 mil.

Em 7 de setembro de 1975, Vitória Pamplona foi levada para o DOI-Codi, na Tijuca. Lá, foi obrigada a ouvir os gritos de seu então marido, o músico Geraldo Azevedo, enquanto ele era torturado. Vitória anexou ao processo a ficha médica do filho produzida por seu pediatra. Nela, o médico relata a infância de Lucas, com crises alérgicas e asmáticas. Dizia que nasceu com baixo peso: 2,3 kg.

Parecer do perito médico legal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio, Talvane de Moraes, é enfático: "É imperioso admitir que o senhor Lucas Pamplona Amorim (...) sofreu conseqüências neuropsíquicas do tipo estresse, que a ele se ele transmitiu diretamente pela circulação materno-fetal".

"Além disso, ele não foi amamentado direito. Tive uma brutal depressão pós-parto", contou Vitória. A afirmação vem embasada por parecer do médico Marcus Renato de Carvalho.

No primeiro julgamento, em agosto de 2006, o pedido de indenização foi negado. A procuradora do Estado Leonor Nunes de Paiva baseou a negativa em três argumentos, como o de que não haveria lei que amparasse os direitos de um feto em relação à tortura e o de que o caso de Grabois, em SP, seria diferente, pois nascera na prisão.

Vitória recorreu apontando o que seriam equívocos de Paiva, como o fato de Grabois ter nascido em Brasília --a indenização dada em SP, portanto, seria referente à tortura sofrida quando ele era um feto. Em 14 de dezembro --na mesma sessão em que o processo da ministra Dilma Rousseff foi deferido-- Lucas venceu por 5 a 2 votos. Hoje, ele é músico e mora em Londres.

A União e os Estados reconhecem sua responsabilidade pela tortura, morte e desaparecimento de opositores no regime militar. Na época, militantes da esquerda armada cometeram crimes de assalto, seqüestro e morte.
(Edson Nogueira Paim escreveui)